São Paulo, SP – Uma faceta pouco conhecida da icônica escritora britânica Virginia Woolf (1882-1941) finalmente desembarcou no Brasil em 2025: sua única peça teatral, “Freshwater: A Comedy”. O texto, que revela um lado mais humorístico e satírico da autora de “Mrs. Dalloway”, chegou ao público brasileiro não apenas em formato de livro, mas também com uma montagem teatral de destaque.
Originalmente escrita em 1923 e revisada por Woolf em 1935, “Freshwater” é uma farsa leve e despretensiosa, criada como uma brincadeira para entreter amigos e familiares no círculo de Bloomsbury. A peça descontrói a pompa da elite britânica vitoriana com diálogos ágeis e situações inusitadas, satirizando a vida e a arte da época. O título remete a uma vila na Ilha de Wight, na Inglaterra, e a trama envolve personagens excêntricos, incluindo a tia-avó de Woolf, a renomada fotógrafa Julia Margaret Cameron, e a atriz Ellen Terry.
A chegada de “Freshwater” ao Brasil se deu de forma notável, com duas traduções simultâneas lançadas por editoras diferentes em fevereiro de 2025:
- A Editora Nós lançou “Freshwater: Uma Comédia”, com tradução de Victor Santiago, prefácio de Ana Carolina Mesquita e posfácio de Davi Pinho. Essa edição bilingue (inglês/português) oferece uma leitura aprofundada do texto.
- A Editora Inglesa, um novo selo da Degustadora Editora, lançou outra versão de “Freshwater”, com tradução de Nara Vidal, também em formato pocket de luxo, buscando firmar um compromisso com o protagonismo feminino na literatura.
Além dos livros, a peça ganhou os palcos brasileiros. “Água Fresca: Uma Comédia de Virginia Woolf” estreou no Sesc Ipiranga, em São Paulo, em 7 de fevereiro de 2025, com temporada se estendendo até 30 de março de 2025. A montagem, idealizada por Gabriel Saito e Victor Santiago (que também assina a tradução, adaptação e dramaturgia da peça), com direção de Sol Faganello, buscou apresentar uma Virginia Woolf multifacetada, desconstruindo a imagem melancólica muitas vezes associada à autora e mostrando seu humor afiado e sua capacidade de subverter as convenções sociais através do riso.
A iniciativa de trazer “Freshwater” para o público brasileiro é significativa, pois, por muito tempo, a peça foi marginalizada pelos críticos e pela própria autora, que a via como um mero passatempo. No entanto, sua publicação e encenação agora permitem uma nova leitura da obra de Virginia Woolf, revelando um lado mais leve e cômico da escritora, enquanto continua a questionar hierarquias e absurdos sociais que ainda ressoam na contemporaneidade.