Washington D.C., 16 de junho de 2025 – Um novo relatório do Banco Mundial acendeu um sinal vermelho para a economia global: os fluxos de Investimento Estrangeiro Direto (IED) destinados aos países em desenvolvimento despencaram em 2023, atingindo o menor patamar desde 2005. De acordo com os dados divulgados pela instituição, o volume de IED que chegou às economias em desenvolvimento no último ano totalizou apenas US$ 435 bilhões (cerca de R$ 2,4 trilhões), uma queda que representa não apenas um recuo financeiro, mas uma ameaça direta ao crescimento econômico sustentável nessas regiões.
A proporção do IED em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) desses países também sofreu um forte declínio, atingindo 2,3%, valor significativamente inferior aos picos registrados em anos anteriores — especialmente o de 2008, quando esse índice chegou a dobrar. Para os 26 países mais pobres do mundo, o cenário é ainda mais crítico: eles receberam apenas 2% do total de investimentos globais, ficando praticamente à margem dos fluxos financeiros internacionais.
“A queda acentuada do IED para as economias em desenvolvimento deve soar como um alarme para todos”, alertou Ayhan Kose, economista-chefe adjunto do Grupo Banco Mundial. “Estamos diante de um cenário que ameaça diretamente os avanços conquistados nas últimas décadas em redução da pobreza, infraestrutura, educação e saúde.”
Impacto Global e Causas da Retração
A retração no fluxo de investimento não é um evento isolado ou sazonal. O relatório destaca uma combinação de fatores econômicos, políticos e geopolíticos que têm influenciado diretamente o comportamento dos investidores internacionais. Entre os principais obstáculos apontados estão:
- Fragmentação econômica global: Com o aumento da polarização entre grandes blocos econômicos e a reorganização das cadeias de suprimento globais, muitos países estão reavaliando suas estratégias de investimento externo, priorizando mercados considerados mais estáveis.
- Aumento das barreiras comerciais e regulatórias: Tensões comerciais persistentes, como as disputas entre Estados Unidos e China, além da adoção de medidas protecionistas por parte de vários países, reduziram a atratividade de muitos mercados em desenvolvimento.
- Riscos macroeconômicos e geopolíticos: A instabilidade política em várias regiões, somada à volatilidade cambial, altas taxas de juros e inflação persistente, tem dificultado a previsão de retorno sobre o investimento, o que desencoraja aportes de capital.
O efeito dessas barreiras não se restringe apenas ao fluxo financeiro. A falta de investimento externo reduz drasticamente a capacidade de expansão das economias emergentes, travando projetos essenciais de infraestrutura, acesso à educação de qualidade, expansão dos serviços de saúde e inovação tecnológica. O Banco Mundial destaca que a estagnação em setores-chave pode provocar um ciclo vicioso de subdesenvolvimento, onde a ausência de capital limita o crescimento e o crescimento limitado afugenta o capital.
Além disso, o IED costuma desempenhar um papel catalisador em áreas como transferência de tecnologia, criação de empregos qualificados, melhoria de produtividade e integração com mercados internacionais. A queda nos investimentos compromete, portanto, não apenas o crescimento econômico, mas a transformação estrutural necessária para tirar milhões de pessoas da pobreza.
Caminhos para a Recuperação: Cooperação Internacional e Reformas Domésticas
Diante do cenário alarmante, o Banco Mundial lançou um apelo global por maior cooperação multilateral e ações coordenadas para reverter a tendência de queda. A instituição defende que o momento exige medidas ousadas, tanto por parte das economias desenvolvidas quanto dos próprios países em desenvolvimento.
Em primeiro lugar, o relatório enfatiza a importância de direcionar o financiamento internacional para as economias com maiores lacunas de investimento, especialmente aquelas que mais dependem do capital externo para sustentar seus programas sociais e de infraestrutura. Os países mais pobres, que receberam apenas uma fração do IED global, precisam ser prioridade em uma estratégia coordenada de alocação de recursos.
Além disso, o Banco Mundial recomenda que os governos desses países promovam reformas estruturais que tornem o ambiente de negócios mais atraente, como:
- Simplificação tributária e regulatória
- Estabilidade jurídica e institucional
- Combate à corrupção
- Garantias legais para investidores estrangeiros
- Melhoria da infraestrutura física e digital
“A criação de um ambiente mais previsível e transparente é crucial para atrair investidores”, explicou Ayhan Kose. “Mas isso precisa estar combinado com um esforço global para apoiar países em situações mais vulneráveis. Não se trata apenas de eficiência econômica, mas de responsabilidade humanitária.”
O relatório também destaca o papel estratégico das economias avançadas, que foram responsáveis por cerca de 90% dos aportes de IED nos países em desenvolvimento na última década. A União Europeia e os Estados Unidos, sozinhos, respondem por aproximadamente metade desses investimentos. Contudo, o atual esfriamento das economias desenvolvidas também compromete o fluxo de capital para os países menos favorecidos, o que acentua ainda mais as desigualdades globais.
Nesse sentido, o Banco Mundial sugere a criação de novos mecanismos de financiamento, como fundos multilaterais de investimento voltados a países de baixa renda, garantias públicas para projetos de alto risco e incentivos fiscais para empresas que invistam em regiões mais carentes.
Conclusão: Um Momento Decisivo para o Desenvolvimento Global
A queda drástica dos investimentos estrangeiros diretos em países em desenvolvimento, conforme alerta o Banco Mundial, representa mais do que uma estatística negativa. Trata-se de uma inflexão perigosa em um processo que vinha, até poucos anos atrás, impulsionando crescimento econômico, inclusão social e avanços estruturais em dezenas de nações ao redor do mundo.
Caso não sejam tomadas medidas urgentes, o risco é de que décadas de progresso sejam revertidas, especialmente nas regiões mais pobres da África, Ásia e América Latina. A comunidade internacional tem, diante de si, uma escolha clara: atuar de forma coordenada para restaurar a confiança nos fluxos de capital internacional ou permitir que a desigualdade econômica entre os países se aprofunde ainda mais.
Reverter essa trajetória será desafiador, mas não impossível. Exige coragem política, comprometimento multilateral e a compreensão de que o desenvolvimento sustentável de todos os países é, em última análise, do interesse coletivo da humanidade.