A indústria de tecnologia global foi agitada recentemente com o surgimento dos primeiros benchmarks da Lisuan G100, a mais nova placa de vídeo chinesa. Embora os números no GeekBench possam parecer modestos para os entusiastas de hardware de ponta, posicionando-a lado a lado com a veterana NVIDIA GTX 660 Ti (lançada há mais de uma década), a G100 representa um marco gigantesco para a soberania tecnológica da China.
Os resultados revelados no GeekBench mostram a Lisuan G100 alcançando cerca de 15.524 pontos no teste OpenCL. Para colocar em perspectiva, a NVIDIA GeForce GTX 660 Ti, lançada em 2012, pontuava de forma similar. Essa comparação pode gerar um certo desapontamento para quem esperava uma concorrente direta às últimas gerações de GPUs ocidentais. Afinal, a própria Lisuan Technology havia acenado com a possibilidade de um desempenho próximo ao da NVIDIA RTX 4060, uma expectativa que se mostrou, no mínimo, ambiciosa demais para esta fase inicial.
No entanto, é crucial entender o contexto por trás desses números. A Lisuan G100 não é apenas mais uma placa de vídeo; ela é a primeira GPU de 6 nanômetros (nm) desenvolvida e fabricada inteiramente dentro das fronteiras chinesas. Este é um feito de engenharia monumental, especialmente considerando as crescentes restrições de exportação de tecnologia avançada impostas por países como os Estados Unidos. A capacidade de projetar e produzir um chip nesse processo litográfico é um testemunho do investimento massivo e do avanço da China em sua cadeia de suprimentos de semicondutores.
Atualmente, a Lisuan G100 encontra-se em estágio de “produção de risco”, o que significa que as primeiras unidades estão sendo produzidas para testes e validação, com a produção em massa prevista para o final de 2025 ou início de 2026. Isso implica que há um longo caminho a ser percorrido. O desempenho visto nos benchmarks pode não refletir o potencial final da placa. É comum que GPUs em desenvolvimento inicial enfrentem desafios de otimização de drivers e, possivelmente, operem em frequências de clock mais baixas do que as esperadas para o produto final. A Lisuan Technology tem a oportunidade de refinar esses aspectos, potencialmente impulsionando o desempenho antes do lançamento oficial.
Ainda assim, mesmo com um desempenho que não rivaliza com as GPUs topo de linha ocidentais, o impacto estratégico da Lisuan G100 é inegável. A busca da China pela autossuficiência tecnológica tem sido uma prioridade máxima nos últimos anos, impulsionada por tensões geopolíticas e pela compreensão de que a dependência de tecnologias estrangeiras pode ser uma vulnerabilidade crítica. Ter uma GPU desenvolvida e produzida internamente, mesmo que com performance mais modesta, permite à China reduzir essa dependência em setores cruciais, como supercomputação, inteligência artificial e aplicações militares.
Além disso, o lançamento da G100 é um passo fundamental para o amadurecimento da indústria de semicondutores chinesa. Cada nova geração de produtos desenvolvidos internamente acumula conhecimento, aprimora processos e fortalece a base tecnológica do país. A experiência adquirida com a G100, tanto nos sucessos quanto nos desafios, pavimentará o caminho para GPUs mais potentes e eficientes no futuro.
Em resumo, a Lisuan G100 não é uma ameaça imediata ao domínio de mercado de empresas como NVIDIA e AMD. Seus benchmarks iniciais a colocam em um patamar de desempenho que hoje é considerado de entrada, ou até mesmo legado, para o mercado de consumo. Contudo, ignorar o significado dessa GPU seria um erro. Ela representa um avanço crucial na jornada da China rumo à independência tecnológica, um movimento que redefine o cenário global da indústria de semicondutores e sinaliza a capacidade crescente do país de inovar e produzir hardware de forma autônoma. O mundo da tecnologia deve ficar atento, pois a Lisuan G100 é apenas o primeiro vislumbre do que a China pretende alcançar no campo das GPUs.