O Brasil respira aliviado. Nesta sexta-feira, 20 de junho de 2025, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) declarou oficialmente o país livre da influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP), popularmente conhecida como gripe aviária. A notícia é um divisor de águas para o agronegócio nacional, especialmente para o setor avícola, que vinha enfrentando restrições comerciais significativas desde a detecção dos primeiros casos em aves silvestres no ano passado.Um Alívio para o Gigante da Carne de FrangoA decisão do Mapa é resultado de um trabalho árduo de vigilância e controle, que envolveu milhares de profissionais em todo o território nacional. Para o Brasil, maior exportador mundial de carne de frango, a retomada do status de país livre da gripe aviária é fundamental. As perdas acumuladas em 2024, devido à cautela de mercados importadores, foram expressivas, impactando a balança comercial e a renda de milhões de trabalhadores direta e indiretamente ligados à avicultura.”Estamos celebrando uma grande vitória para o agronegócio brasileiro”, afirmou o Ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, em coletiva de imprensa realizada em Brasília. “Esse resultado demonstra a resiliência do nosso sistema de defesa agropecuária e a dedicação incansável de nossos técnicos, produtores e de toda a cadeia produtiva.”A reabertura de mercados que impuseram barreiras sanitárias parciais ou totais é a expectativa imediata. Países como Japão, Coreia do Sul, União Europeia e Arábia Saudita, importantes compradores da carne de frango brasileira, devem agora reavaliar suas restrições, abrindo caminho para a plena retomada das exportações.A Linha do Tempo da Crise e a Resposta CoordenadaA crise da gripe aviária no Brasil teve início em maio de 2024, com a confirmação dos primeiros casos em aves silvestres no litoral do Espírito Santo. A partir daí, a doença se espalhou por outras regiões costeiras, atingindo também aves de subsistência em alguns estados. No entanto, o ponto crucial foi a ausência de registros da doença em granjas comerciais, o que foi fundamental para a rápida contenção e para a manutenção do status de “país livre da doença em aves comerciais” perante a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).Desde o primeiro alerta, o Mapa, em conjunto com os órgãos estaduais de defesa agropecuária, implementou um plano de contingência rigoroso. As ações incluíram: * Intensificação da vigilância: Monitoramento constante de aves silvestres e domésticas em áreas de risco. * Barreira sanitária: Criação de zonas de quarentena e restrição de movimentação de aves e produtos avícolas em regiões afetadas. * Sacrifício de aves: Eutanásia de aves doentes e expostas em focos pontuais para evitar a disseminação. * Comunicação transparente: Divulgação regular de informações sobre a evolução da doença e as medidas adotadas. * Campanhas de conscientização: Orientação a produtores e à população sobre biosseguridade e sinais da doença.A colaboração entre o governo federal, os governos estaduais, o setor produtivo e a comunidade científica foi crucial para o sucesso das medidas. “A agilidade na resposta e a coordenação das ações foram determinantes”, explica a Dra. Ana Paula Silva, epidemiologista veterinária e consultora do setor avícola. “A experiência do Brasil em lidar com outras doenças animais e a infraestrutura de defesa sanitária existentes foram um diferencial.”Lições Aprendidas e o Futuro da BiosseguridadeA superação da crise da gripe aviária deixa importantes lições para o agronegócio brasileiro. A principal delas é a necessidade de investimento contínuo em biosseguridade e vigilância sanitária. Embora o Brasil tenha se mantido livre da doença em granjas comerciais, a proximidade com focos em aves silvestres e de subsistência acende um alerta para a importância de medidas preventivas ainda mais rigorosas.”A biosseguridade não é um custo, é um investimento”, ressalta Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). “A indústria avícola brasileira já possui um alto padrão de biosseguridade, mas essa experiência nos mostra que precisamos estar em constante aprimoramento. A vigilância epidemiológica deve ser uma prioridade permanente.”O Mapa já anunciou a criação de um grupo de trabalho permanente para monitorar a situação da influenza aviária globalmente e adaptar as estratégias de prevenção no Brasil. Além disso, serão intensificadas as ações de educação sanitária junto a pequenos produtores e criadores de aves de subsistência, considerados elos mais vulneráveis na cadeia de transmissão.Impactos na Economia e no EmpregoA declaração de país livre da gripe aviária traz um fôlego renovado para a economia brasileira. O setor avícola é um dos pilares do agronegócio, responsável por uma fatia significativa do PIB nacional e pela geração de milhões de empregos diretos e indiretos, especialmente em pequenas e médias cidades.Com a retomada plena das exportações, espera-se um aumento da produção, mais investimentos no setor e, consequentemente, um impacto positivo na balança comercial. Analistas de mercado preveem que a confiança dos investidores no agronegócio brasileiro será fortalecida, abrindo novas oportunidades de negócios e parcerias internacionais.”A capacidade de resposta do Brasil a essa crise demonstra a solidez do nosso agronegócio”, avalia o economista Pedro Mendes, especialista em mercados agrícolas. “Isso reforça a imagem do país como um fornecedor confiável e seguro de alimentos para o mundo.”Um Olhar para o Consumidor e a Segurança AlimentarPara o consumidor brasileiro, a boa notícia também traz tranquilidade. Durante o período de crise, o consumo interno de carne de frango não foi afetado de forma significativa, uma vez que a segurança do produto foi sempre garantida pelas autoridades sanitárias. No entanto, a declaração de liberdade da doença reforça a confiança na qualidade e na segurança dos alimentos produzidos no país.A influenza aviária, embora preocupante para a saúde animal e a economia, raramente afeta seres humanos. Os casos de transmissão para humanos são geralmente associados a contato direto e prolongado com aves doentes, e não ao consumo de carne ou ovos. No Brasil, não houve registro de casos em humanos.Com o status de país livre da gripe aviária, o Brasil reafirma sua posição de potência global no agronegócio e sua capacidade de superar desafios, garantindo a segurança alimentar de sua população e contribuindo para o abastecimento de alimentos no mundo. O trabalho de vigilância, no entanto, continua. A lição da crise é clara: a proteção da saúde animal é um esforço contínuo e colaborativo, essencial para a prosperidade do setor e a segurança de todos.